quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Maratona do Porto - Os tempos

Este será um artigo mais "técnico", de análise aos tempos que fui fazendo, quilómetro após quilómetro durante a Maratona. Vou comparar igualmente os meus dados com os do meu amigo Jorge Carneiro, sendo interessante comparar duas corridas muito diferentes. Espero não tornar este artigo muito chato, vamos lá ver.
Em primeiro lugar, a minha evolução em termos de velocidade média por quilómetro (mm:ss/km)

Como se pode ver, no primeiro quilómetro andei algo devagar, sobretudo por causa dos segundos que demorei até poder começar a correr. Depois, fiz os primeiros 12km com muito controlo em termos de pulsações, mas acabei por fazer tempos algo altos (perto de 5:30 a descer e quase nos 6:00 em plano). A partir daí foi a fase mais regular, primeiro com o Paulo e depois com o resto do grupo, mantendo sempre uma passada próxima dos 5:40 por quilómetro. A maior excepção foi ao quilómetro 19, quando caí e fiz 5:53. A partir dos 27km os tempos começaram a ser bastante mais irregulares, ou seja, já não estava a controlar tão bem a passada. Fiz os 28km em 5:22 mas os 29 a 6:07. Depois, comecei a fazer bons tempos (talvez demasiado bons), como os 5:15 aos 34km (o melhor registo da prova) alternando com tempos acima dos 6 quando passava pelo abastecimento. No final fica bem patente a quebra: 5:25 aos 37, 6:09 aos 38 km (foi nesse quilómetro que estourei) e sempre acima dos 6:20 nos restantes, mas curiosamente não fui diminuido a velocidade, estabilizei logo. Comparando agora com a minha média de 5:47 ao quilómetro (peço desculpa pelo erro nas unidades mas ainda não me habituei aos gráficos do Google Docs):

Este gráfico é muito parecido com o anterior mas permite verificar que andei com tempos parciais abaixo da média enquanto descia a Boavista, na fase regular até aos 28km e depois alternadamente entre esse quilómetro e o 38. Andei acima da média no primeiro quilómetro, no quilómetro em que caí, pontualmente a partir dos 28km e em todos os 4km finais. Passemos agora para as pulsações. Como referi no post anterior, fiquei com a sensação de andar sempre um pouco acima da média prevista (após leitura de imensos sites), será que isso se confirmou? Há que referir que o meu Monitor de Frequência Cardíaca também se cansou, por isso alguns dados nos quilómetros finais são interpolados:

Parece que essa ideia que tive durante a prova só estava parcialmente correcta. Até à meia maratona andei quase sempre abaixo do previsto. Cheguei mesmo a andar a menos 9 e a menos 10 batimentos que o previsto nos quilómetros 16 e 15, respectivamente. Nos quilómetros em que ultrapassei o valor previsto, andei apenas um batimento acima. A ultrapassagem contínua dos valores previstos ocorreu a partir do quilómetro 23, chegando mesmo a atingir valores acima das 180 pulsações por minuto entre os 32 e os 36 e no quilómetro final.
E quanto aos valores obtidos durante a prova? Tive muitos picos ou andei bastante regular? Vamos comparar a minha pulsação máxima com a média em cada quilómetro:
Este aspecto estava algo dependente da orografia, pelo que os resultados são bastante irregulares. Em alguns quilómetros a pulsação média e máxima era muito semelhante mas, em alguns casos, a diferença foi de 16 bpm, 19 bpm e 27 bpm (se bem que este último caso se possa dever a problemas com o monitor). De uma forma geral, a diferença entre média e máxima ficava sempre entre os 5 e os 8 bpm, o que não será muito.
O próximo gráfico já é um devaneio: será que existe proporcionalidade entre a minha velocidade e a quantidade de vezes que o meu coração bate por minuto durante uma maratona?

Não, claro que não. Este gráfico tem um r^2 de 0,0834, por isso não há qualquer semelhança com uma progressão linear. Se calhar se eu fosse um atleta melhor, talvez isto fizesse mais sentido.
Por fim, comparando a minha corrida com a do meu amigo Jorge num gráfico normal de distância e tempo:

Por incrível que pareça, as nossas linhas curvas cruzam-se no quilómetro 29, exactamente o mesmo em que o ultrapassei. A matemática tem destas coincidências. Como disse, tivemos abordagens diferentes. Ele partiu mais depressa e foi-me ganhando tempo precisamente até meio da prova, onde atingiu uma diferença máxima de 8 minutos. A partir daí nota-se uma quebra, que vai aumentando de intensidade, sobretudo a partir dos 30 km. A minha corrida começou mais lenta mas, à excepção dos últimos quilómetros, não tive grandes variações de velocidade.
Por fim, como fomos nós evoluindo em relação ao ritmo médio para efectuar a maratona em 4 horas?

A resposta é simples. Eu andei sempre lá perto, mas nos últimos 4km acabei por vacilar e afastar-me do tempo final. Já o Jorge, começou muito bem, mas depois mergulhou de cabeça num tempo bem superior.
Conclusões
Depois desta análise consigo perceber alguns factores determinantes para a minha prova: 1. Foi uma boa opção conter o meu ritmo inicial para adiar a quebra; 2. O principal problema terá sido o ritmo após a meia-maratona, passei a andar com as pulsações mais altas para acompanhar e puxar pelo grupo e a quebra aos 38 km reflectiu isso; 3. Não estou totalmente arrependido com a táctica que usei e ainda tenho dúvidas se fiz mal em manter aquele ritmo mais rápido, se perdesse o grupo talvez ainda fosse pior; 4. Para o ano há mais, e tenho que estudar a melhor forma de mexer nesta táctica.

7 comentários:

JCCJCC disse...

Grande Miguel.

Grande prova, muito regular. A quebra nos 4 Kms finais não é nada de grave, eu fiz bem pior.

Quanto aos 48 minutos que me deste de avanço, vais pagar por eles, às prestações. Pode ser a 3 anos ?

JC

MT disse...

Estive a consultar a Moody's, S&P e Fitch e pelo teu ratingo vou ter que fazer uma taxa de juro de 7%

JCCJCC disse...

7% ???
Isso é exploração !!!

Mas eu devolvo-te.

E agora na agenda? Volta a Paranhos e meia de Viana?

Anónimo disse...

Bem, pela primeira vez tropeço num post onde vejo um andamento semelhante ao meu (apesar de nunca ter feito uma meia-maratona que fosse) e com as mesmas preocupações ao nível dos batimentos cardíacos. Eu ainda não corri acima dos tais 90% do máximo, que no meu caso são 167bpm. Não sei se posso exceder isso numa prova e durante quanto tempo o conseguirei (deverei) fazer. A verdade é que apesar de ler inúmeros posts sobre quem costuma ir a provas, ainda não li nada que me convencesse sobre esta questão. Falei disso por aqui. Há duas semanas atrás fiz a minha primeira prova e, apesar de ter corrido bem, achei que podia ter melhorado o tempo se tivesse andado mais rápido com o risco das pulsações subirem para patamares indesejados.
Gostei de ler e parabéns pela prova. Talvez um dia, com muito treino, eu consiga fazer essa que é a prova rainha do atletismo.
Cumprimentos

MT disse...

Excelente blogue. Vou começar a acompanhá-lo!
Quanto ao objectivo triatlo: é mais fácil do que se pensa, se precisares de dicas já sabes.
Em relação à Maratona: uns meses de treino são suficientes. Uma ou duas meias maratonas podem ajudar, bem como um treino de 30km.

MT disse...

Na minha opinião, numa prova como a Maratona deve-se evitar ultrapassar o limiar anaeróbio até bem tarde. Já numa meia, pode-se usar uma táctica mais "ofensiva", à volta dos 80%. A partir de certa altura quase que não se precisa de fita, basta sentir.
Em provas de 10km e nas corridas dos triatlos ando quase sempre lá em cima, a dar o máximo.

Anónimo disse...

MT, agradeço as respostas. Sobre o Triatlo, para alguém que começou a dedicar-se a 'sério' ao desporto há menos de 2 anos, eu vejo como um sonho, tipo "Gostava mesmo de experimentar". Não para levar a sério, pela dedicação que será necessário ter em termos de treinos, mas pelo gozo que deve dar em fazer algo assim, pelo menos uma vez na vida.
O problema, o enorme problema, é que não vejo quaisquer facilidades. Explico melhor. Para experimentar a ir a uma prova eu posso ir como 'amador' ou tenho de ser federado? Vou comprar um fato térmico de propósito? E a bicicleta? Etc. etc. O ideal era haver quem promovesse a modalidade, com o empréstimo desses equipamentos. E se a pessoa gostasse, se ganhasse o 'bichinho', então é que seria convidada a investir. Eu leio coisas sobre provas de trialo lá fora e fico com a ideia (talvez errada) que esse tipo de facilidades existe. Mais, que qualquer amador pode participar nas provas. Por exemplo, este site "The Outdoor Swimming Society", reúne toda a informação de quem costuma ir nadar fora das piscinas. A malta usa-o para combinar treinos em conjunto. Por cá, creio que não existe algo do género, e as nossas água são bem melhores para nadar que as deles (inglaterra).
Enquanto vão havendo estas dúvidas e problemas logísticos, continuo a ler os blogues de quem vai de bicleta, a correr e a nadar :)