quarta-feira, 30 de maio de 2012

III Triatlo Longo de Aveiro

Apenas três semanas após o Longo de Lisboa, chegava a altura de repetir a distância. Foram três semanas de manutenção, com os primeiros dias de recuperação, algum volume pelo meio e novos dias de descanso pré-prova. O objetivo seria melhorar em todos os sectores, arriscando um pouco mais em cada um deles. Não seria fácil no ciclismo, já que teria de percorrer mais 3,5km (90km em Aveiro e 86,5 em Lisboa), o que a média de 30km/h dá 7 minutos.

Natação
O objetivo era baixar bastante o tempo de Lisboa. Os 38 minutos souberam a pouco e podia ter arriscado bem mais. Voltei a usar a técnica de pôr o relógio a vibrar a cada 9 minutos e, desse modo, tentar sair da água aos 36 minutos, o que seria excelente.
 No entanto, o início começou com bastante confusão, já que a partida era bastante estreita para os bem mais de 200 nadadores que tinham-se enfiado naquela água de 19ºC às 8 da manhã. Tive que lutar muito para manter um ritmo contínuo até à primeira viragem. Depois, nova curva de regresso e um pouco mais espaço. Nessa altura toca o alarme dos 9 minutos e já tinha passado meia volta, por isso tudo controlado. Consegui manter bem a técnica procurando puxar bem a água para trás e enviando o corpo para a frente, e os 18 minutos passaram já uns bons metros após o final da primeira volta. Os únicos problemas foram de orientação, via mal as boias e volta e meia quando me entusiasmava nas braçadas acordava já longe do percurso ideal. A vibração aos 27 minutos já foi bem além do meio da segunda volta e naquela altura sabia que se nada de especial me acontecesse teria um tempo muito bom. Por acaso aconteceu algo de especial, a touca saiu-me da cabeça, ainda a agarrei e fiz os últimos metros com ela na mão. Nada que me prejudicasse por aí além.
Só coloquei a mão no relógio quando ia a meio do percurso a pé até ao parque de transição, por isso não sei bem o tempo que fiz. Sei que foi inferior aos 35:32 cronometrados pela federação já fora de água e aos 35:57 marcados no Garmin. Curiosamente, aumentei 1 braçada por minuto de média em relação a Lisboa, mas os ganhos foram maiores, já que tirei 2:30 ao tempo do Parque das Nações. O tempo foi o 134º em 214 nadadores, algo inédito até hoje. Fiz inclusive uma melhor média aos 100m (1:52) do que em Alpiarça (e todos os outros triatlos em que participei, à excepção de Quarteira), onde nadava menos de metade da distância.


1ª Transição
Também aqui ganhei tempo. Após os 3:35 em Lisboa, quis acelerar mais, fazendo uma transição digna de um triatlo sprint. Desta vez 2:34 oficiais e 2:20 no Garmin. 

Ciclismo
Uma vez mais, sem nenhuma cabra de contra-relógio, nem sequer uns extensorzinhos ou um capacete aerodinâmico para ajudar. Foi outra vez à curioso e, como é óbvio, andei  algum tempo a vê-los passar. Gosto da ideia de ser proibido andar na roda e pude manter sempre o meu ritmo, constante, sem me importar por terceiros. Na realidade mantive várias companhias mas que funcionavam como iô-iô. Iam para a frente, ficavam para trás e por aí adiante. Só no final arranjei um companheiro certinho com quem andei sempre a cumprir as regras.
Desta vez fui vendo alguns comboios, o mais impressionante foi o TGV Salamanca - Aveiro (Não sabia que já existia) que passou por mim a grande velocidade. Resisti sempre à tentação das rodas embora tenha sido um pouco prejudicado.
Eu achava que ia mais ou menos constante em cada sentido,  com quebras sempre que fazia o percurso Norte-Sul por causa do vento. Tentei sempre manter as pulsações entre 150bpm e 160bpm e controlava as velocidades médias a cada 5km. O resultado foi bastante aceitável para as minhas expectativas. Em apenas 5 dos 18 troços andei acima dos 10 minutos, ou seja, abaixo dos 30 km/h (todos eles contra o vento) e a média final ficou obviamente acima (30,6 km/h). Quanto à nutrição, em equipa que ganha não se mexe e voltei a optar pelas três saquetas de gel distribuídas pelo percurso.
Embora tenha feito um tempo ligeiramente superior ao de Lisboa, ou seja, 2:56:18 contra 2:55:52, o facto de ser um percurso com mais 3,5 km faz com que a média tenha sido superior, mas também num percurso mais fácil. Uma coisa era certa, ia para esta transição mais cedo e mais fresco do que em Lisboa. O lugar não foi nada de especial, 181º em 214.



2ª Transição
Desta vez acabei por optar por uma barra e por beber bastante, tendo demorado 2:05, cerca de 50 segundos abaixo do que fiz em Lisboa. Optei por comer uma barra e pegar num gel para a meia-maratona

Corrida



Foto gentilmente roubada ao Desafios do Hugo

Quando saí do parque da transição olhei para a meta e vi 3h36m, ou seja, se fizesse uma corrida igual à de Lisboa faria um tempo na casa das 5h30m batendo o meu recorde. Era para isso que ali estava, e se possível para baixar essa fasquia e ficar com um tempo Like a Boss.
Pois bem, estava cheio de força e mesmo olhando para o relógio e vendo as pulsações lá em cima, estava confortável, e  deixei-me ir.
Quando passa o 1º km e vejo 4:41. Uau, estou fortíssimo!
Passa o 2ºkm 4:44. Sou mesmo forte, mas é melhor acalmar um bocado.
3º km: 5:03. É melhor acelerar.
4º km: 4:59. Já está melhor, mas sinto algum cansaço.
5º km: 5:05. É pá, isto não era um triatlo sprint?
6º km: 5:09. Ainda faltam 15??
7º,8º e 9º km: 5:23 a 5:25 Já passou um terço, se mantiver a média até aqui vou bem.
10º km: 5:29. Já só falta metade, ou melhor, ainda falta metade.
11º km: 5:35. Ui, que isto está mau.
12º km: 5:49. Ai que isto vai ser um martírio.
13º km: 5:51. Ainda faltam oito? Já fui
14º km: 5:51. Isto é que vai ser sofrimento.
15º km: 5:45. Olha o Rui Pena, vou andar um bocado mais depressa para o apanhar.
16º km: 5:54. Agora o que faço? Já não há referências.
17º km: 5:45. Uma volta ainda? Que martírio.
18º km: 5:55. Não consigo pensar
19º km: 5:57. Brrrrrr.
20º km: 6:32. Começo a andar a pé até o Rui Pena me acordar.
21º km: 6:13. Sou um zombie que vai chegar à meta.


E foi esta a história, armei-me em fino e passei metade da corrida a sofrer e com tempos miseráveis. Acabei por fazer mais três minutos que em Lisboa e por deitar por terra todas as possibilidades de bater o recorde. 1:57:44, o que constitui o pior parcial (188º). Se tivesse cabeça, as coisas teriam corrido muito bem, assim aprendi.


Conclusão
A minha intenção foi sempre de  melhorar Lisboa, mas acabei por ser traído pela minha impetuosidade no início da corrida. Quando acabei a natação e a bicicleta sentia-me ainda mais fresco que em Lisboa, mas o excesso de ganância resultou numa segunda parte da meia-maratona muito má.
Acabei em 183º em 233 com o tempo global 5:34:14. Eu sei que foram apenas mais 1:50 do que tinha feito em Lisboa três semanas antes. Também sei que o percurso de ciclismo tinha mais 3,5km que se percorrem em bem mais do que 1:50. Mas soube a pouco. Soube a pouco porque sofri bastante mais na corrida e sobretudo porque não bati o tempo anterior quando tinha todas as hipóteses de o fazer.
Continuo  gostar imenso dos triatlos longos e também adorei esta prova. Um lugar óptimo para triatlos, com um percurso de ciclismo estrondoso (onde adoro treinar também) mas com uma corrida algo desmoralizante já que não há ninguém no quartel e 5 voltas parece-me demasiado. Mesmo assim, embora menos entusiasmante que o de Lisboa, este triatlo tem um preço excelente para o nível de organização que tem. Esperemos que não desapareça do calendário, se tudo correr bem para o ano estou cá batidinho.
Os triatlos longos interessam-me porque puxam pela cabeça. É preciso ser inteligente e conhecer o corpo. Ter capacidade de decisão suficiente para saber quando comer e quando acelerar ou diminuir a velocidade. Foi um erro de apreciação no início que deitou por terra um novo recorde. Mas novos triatlos virão.
Agora os objectivos estão colocados nos Olímpicos de Lisboa e Aveiro. Depois de uma primeira fase da época em que me preocupei com a resistência está na altura de melhorar na velocidade. Já há muito tempo que não dou um salto na corrida.

4 comentários:

Triatleta disse...

Parabéns Miguel!

A prova de s.Jacinto está muito bem medida. Por isso, fizeste melhores tempos.

Comer barras para ir correr a seguir é um erro. Um gel por volta e água é o mais indicado.

Um abraço e boa recuperação,

TriPP

Bluewater68 disse...

Grande Miguel. Ganhaste o gosto e agora não queres outra coisa. Pois como eu disse lá no FB, mesmo com mais minuto aqui ou mais segundo ali, quer o tempo em Lisboa, quer o tempo em Aveiro, são para mim marcas "Like a Boss". Muitos para béns por essas conquistas. A marca da natação foi excelente, a aproximar-se da primeira metade da classificação geral.
No abastecimento é que talvez pudesses ter optado pela barra durante o ciclismo. A sua absorção é mais demorada e teria mais efeito para a corrida.
Eu sei que isto se usa no trail, mas não sei se faz sentido numa prova destas: e coisas salgadas? Tipo amendoins com sal? (poucos, claro está). E aquela hipótese do bolo caseiro cheio de energia?
Muito bom o relato da corrida :) Isso é mesmo uma prova de grande estratégia, onde é necessário saber exactamente como dosear o esforço.
«Olímpicos de Lisboa e Aveiro» O de Lisboa até gostava de ir, mas depois penso que é preciso nadar no Tejo e perco a vontade. Bem ... em frente à Torre de Belém, a água até será ligeiramente mais limpa que no Parque das Nações :)
Abraço, boa recuperação e bons treinos
Nota: este link «Desafios do Hugo» não funciona

MT disse...

Pedro, acredito que sim, mas naquela altura sentia vontade de algo sólido para o estômago. Depois tomei um gel a meio da corrida e foi suficiente. Mas sou capaz de voltar à opção gel na próxima.

Bluewater68: A água de Lisboa ao lado da de Aveiro é como comparar água mineral com um esgoto a céu aberto, não há que ter medo. Quanto ao bolo, esqueci-me de referir no post. Fiz o que sugeriste, com pequenas alterações (não gosto de passas) e foi o meu pequeno almoço. Deu bons resultados (não é propriamente doce, mas come-se bem) já que não senti tanta fome como em Lisboa. A nível de alimentação a coisa correu ainda melhor desta vez.

Hugo Gomes disse...

Parabéns Miguel!
Mais um longo no currículo.
Estas provas são muito interessantes e, como dizes, temos que controlar muitos aspectos (alimentação, ritmos, etc.) para alcançar os objectivos.
Tenho que ver se consigo ir nos teus pés na natação para sair melhor da água...
Um abraço!